Como uma estrada, deveríeis ver a vossa vida.
Pois dias haverá, em que o sol brilhará sobre vós. E a sua luz pintará de novas cores o mundo que vos cerca; e o seu calor será capaz de aquecer-vos a alma, fazendo brotar novas esperanças.
Entretanto, dias também existirão em que as tempestades encobrirão o vosso horizonte. E vos encolhereis, enquanto a chuva inclemente vos fustiga e os ventos ensandecidos parecem arrastar para longe os vossos sonhos.
Dias haverá, em que atravessareis as mais suaves planícies. E os vossos pés deslizarão sobre a grama macia; os vossos olhos desfrutarão das mais belas paisagens, e o ar fresco do campo vos trará o sopro da alegria.
Em outros dias, entretanto, necessário vos será escalar as mais agrestes montanhas. E sangrarão os vossos pés nus, nas ásperas pedras do caminho; e vos faltará o fôlego, durante a árdua jornada.
Em dias que vos parecerão encantados, a voz da brisa vos trará as mais lindas canções e em suas asas vos chegarão os mais delicados odores; e o tempo voará, para que os momentos felizes se eternizem em vossa lembrança.
Nos dias escuros, todavia, ouvireis apenas os gemidos da desesperança, que buscará sepultar-vos sob a dor da frustração; e no vento selvagem sentireis o cheiro desagradável de vossos sonhos mortos.
Juntos, podereis caminhar; e a companhia amenizará a vossa jornada. Pois mais leve é a carga dividida: menos amargas se tornam as lágrimas repartidas e mais doces são os sorrisos compartilhados.
Entretanto, cada um de vós tem a sua própria estrada; que deverá seguir do seu próprio jeito e sobre os seus próprios pés.
Podereis enxugar a fronte do parceiro, mas cada um deverá verter o seu próprio suor. E podereis ampará-lo, com o vosso carinho; mas nas suas veias não correrá senão o seu próprio sangue, e o seu corpo não sentirá senão as suas próprias dores.
Porque é sozinho, que cada homem verá chegar o fim da sua estrada; como sozinho estava, ao recomeçar a caminhada.
E os dias se sucederão sobre vós; cairá a noite e virá o amanhecer sobre os vossos caminhos, até que um dia a estrada se interrompa. E o que hoje vos parece o nada, então se mostrará como um novo horizonte.
Entretanto, não vos é dado conhecer a duração da vossa jornada; nem saber o que se oculta entre as curvas do caminho. E é por isto que necessitais viver cada hora como se fosse a última hora do vosso derradeiro dia.
Se assim fizerdes, sabereis valorizar o vosso tempo; e as vossas alegrias e os vossos entes queridos. E não vos buscará o arrependimento de quem passou pelo caminho sem desfrutar dos seus encantos.
Porque, em todos vós, a alegria ingênua da criança cederá lugar aos desencantos do adulto; mas, para aquele que soube viver, o cansaço da velhice é amenizado pela tranquila certeza de uma proveitosa jornada.
É assim que é. Como o fim se faz necessário, para que possa haver um novo começo, e no silêncio mais se destacam as notas da canção, é preciso que exista a morte, para que faça sentido a vida.
Como precisam existir as trevas da noite, para que possa surgir o esplendor de um novo dia.
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