terça-feira, 23 de março de 2010

OS VOSSOS DIAS E A VOSSA VIDA

Como uma estrada, deveríeis ver a vossa vida.

Pois dias haverá, em que o sol brilhará sobre vós. E a sua luz pintará de novas cores o mundo que vos cerca; e o seu calor será capaz de aquecer-vos a alma, fazendo brotar novas esperanças.

Entretanto, dias também existirão em que as tempestades encobrirão o vosso horizonte. E vos encolhereis, enquanto a chuva inclemente vos fustiga e os ventos ensandecidos parecem arrastar para longe os vossos sonhos.

Dias haverá, em que atravessareis as mais suaves planícies. E os vossos pés deslizarão sobre a grama macia; os vossos olhos desfrutarão das mais belas paisagens, e o ar fresco do campo vos trará o sopro da alegria.

Em outros dias, entretanto, necessário vos será escalar as mais agrestes montanhas. E sangrarão os vossos pés nus, nas ásperas pedras do caminho; e vos faltará o fôlego, durante a árdua jornada.

Em dias que vos parecerão encantados, a voz da brisa vos trará as mais lindas canções e em suas asas vos chegarão os mais delicados odores; e o tempo voará, para que os momentos felizes se eternizem em vossa lembrança.

Nos dias escuros, todavia, ouvireis apenas os gemidos da desesperança, que buscará sepultar-vos sob a dor da frustração; e no vento selvagem sentireis o cheiro desagradável de vossos sonhos mortos.

Juntos, podereis caminhar; e a companhia amenizará a vossa jornada. Pois mais leve é a carga dividida: menos amargas se tornam as lágrimas repartidas e mais doces são os sorrisos compartilhados.

Entretanto, cada um de vós tem a sua própria estrada; que deverá seguir do seu próprio jeito e sobre os seus próprios pés.

Podereis enxugar a fronte do parceiro, mas cada um deverá verter o seu próprio suor. E podereis ampará-lo, com o vosso carinho; mas nas suas veias não correrá senão o seu próprio sangue, e o seu corpo não sentirá senão as suas próprias dores.

Porque é sozinho, que cada homem verá chegar o fim da sua estrada; como sozinho estava, ao recomeçar a caminhada.

E os dias se sucederão sobre vós; cairá a noite e virá o amanhecer sobre os vossos caminhos, até que um dia a estrada se interrompa. E o que hoje vos parece o nada, então se mostrará como um novo horizonte.

Entretanto, não vos é dado conhecer a duração da vossa jornada; nem saber o que se oculta entre as curvas do caminho. E é por isto que necessitais viver cada hora como se fosse a última hora do vosso derradeiro dia.

Se assim fizerdes, sabereis valorizar o vosso tempo; e as vossas alegrias e os vossos entes queridos. E não vos buscará o arrependimento de quem passou pelo caminho sem desfrutar dos seus encantos.

Porque, em todos vós, a alegria ingênua da criança cederá lugar aos desencantos do adulto; mas, para aquele que soube viver, o cansaço da velhice é amenizado pela tranquila certeza de uma proveitosa jornada.

É assim que é. Como o fim se faz necessário, para que possa haver um novo começo, e no silêncio mais se destacam as notas da canção, é preciso que exista a morte, para que faça sentido a vida.

Como precisam existir as trevas da noite, para que possa surgir o esplendor de um novo dia.

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